segunda-feira, 9 de junho de 2008

Alegria na Tristeza


"O título desse texto na verdade não é meu, e sim de um poema do
uruguaio Mario Benedetti. No original, chama-se "Alegría de la
tristeza" e está no livro "La vida ese paréntesis" que, até onde sei,
permanece inédito no Brasil.

O poema diz que a gente pode entristecer-se por vários motivos ou por
nenhum motivo aparente, a tristeza pode ser por nós mesmos ou pelas
dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de um gesto, mas que ela
sempre aparece e devemos nos aprontar para recebê-la, porque existe
uma alegria inesperada na tristeza, que vem do fato de ainda
conseguirmos senti-la.

Pode parecer confuso mas é um alento. Olhe para o lado: estamos
vivendo numa era em que pessoas matam em briga de trânsito, matam por
um boné, matam para se divertir. Além disso, as pessoas estão sem
dinheiro. Quem tem emprego, segura. Quem não tem, procura. Os que
possuem um amor desconfiam até da própria sombra, já que há muita
oferta de sexo no mercado. E a gente corre pra caramba, é escravo do
relógio, não consegue mais ficar deitado numa rede, lendo um livro,
ouvindo música. Há tanta coisa pra fazer que resta pouco tempo pra
sentir.

Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo que não seja uma
euforia, um gozo, um entusiasmo, mesmo que seja uma melancolia. Sentir
é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do fazer, que é
conjugado pra fora.

Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta. Fazer é muito barulhento.

Sentir é um retiro, fazer é uma festa. O sentir não pode ser escutado,
apenas auscultado. Sentir e fazer, ambos são necessários, mas só o
fazer rende grana, contatos, diplomas, convites, aquisições. Até
parece que sentir não serve para subir na vida.

Uma pessoa triste é evitada. Não cabe no mundo da propaganda dos
cremes dentais, dos pagodes, dos carnavais. Tristeza parece praga,
lepra, doença contagiosa, um estacionamento proibido. Ok, tristeza não
faz realmente bem pra saúde, mas a introspecção é um recuo
providencial, pois é quando silenciamos que melhor conversamos com
nossos botões. E dessa conversa sai luz, lições, sinais, e a tristeza
acaba saindo também, dando espaço para uma
alegria nova e
revitalizada. Triste é não sentir nada."
(Alegria na Tristeza - Martha Medeiros)

Um comentário:

Tombazana disse...

"Sorria mesmo que seu sorriso seja triste pois mais triste que um sorriso triste é a tristeza de não saber sorrir", nunca mais me esqueci disto e aprendi há muitos anos...amiga, encaixa bem neste seu texto, PARABÉNS, belo post este.

Beijinhos muitos