Quem vê a música "A paz que eu não quero" do grupo O Rappa, muitas vezes pensa na revolução, sair da frente da TV, ir para ruas, gritar e ser do contra, mas a voz nem sempre é ouvida com gritos sem argumentos. A verdadeira paz com voz está em saber usar as palavras certas no momento certo.
A constituição brasileira de 1988, copiada em muitos países, é uma conquista dos brasileiros. Acredito que tenha sido o momento no Brasil onde, independente de partido, todos sabiam exatamente o que queriam de uma constituição, evitar que quaisquer dos crimes ditatoriais pudessem voltar a acontecer. Por isso é tão importante dar aos brasileiros a paz com voz. É muito importante que cada pessoa tenha o direito a responder pelos seus atos legalmente, ser julgado e condenado ou inocentado segundo o seu crime.
O que você faria se morasse na favela, visse todos os dias cada um dos traficantes e policiais corruptos e fosse pego em tortura para dedurar tais pessoas? A morte está marcada. Se dedurar morre pelas mãos do tráfico, senão morre pela tortura da polícia. Escolheria a morte menos dolorida, certamente.
O que você faria se seu filho, menino de favela que tenta estudar e não se envolver com o crime, fosse morto na janela de casa por uma bala direcionada por policiais a um traficante?
Certa vez um amigo policial me perguntou:
-Como você acha que acabamos com a violência e o tráfico?
- Acabando com as bocas e os traficantes.
- Não, acabando com os usuários. Sem usuários não há consumo e sem consumo não há tráfico.
Então eu me pergunto, quantos dos que defendem a morte sem julgamento, a tortura, a "justiça" feita com as mãos sem direito a julgamento, já fumaram seu baseado nas festinhas, já cheiraram ou consumiram outras drogas?
Sabe qual a paz que não quero seguir admitindo?
A paz da tortura, a paz da falta de justiça. Bandido bom é bandido julgado e condenado. Polícia boa é polícia preventiva e a que age em defesa da comunidade. Judiciário bom é o que faz cumprir a lei e permite que todos sejam julgados segundo seus crimes. A paz sem voz do menino com medo de descer o morro e ser confundido com bandido, não é paz, é guerra. A paz sem voz de morrer sob tortura, sem direito a julgamento, não é paz, é guerra.
A paz sem voz que fere o pobre, fere o rico e fere a história do nosso país, não é paz, é a pior guerra porque o inimigo é covarde e se esconde em uniformes e distintivos. É essa a paz que eu não quero seguir admitindo. Por isso que a minha palavra está armada e apontada para a cara do sossego e eu jamais quero perder o meu direito, a minha constituição porque a minha paz tem voz e foi uma conquista do meu país.
Minha Alma (A Paz Que Eu Nao Quero)
O Rappa
A minha alma tá armada e apontada
Para cara do sossego!
Pois paz sem voz, paz sem voz
Não é paz, é medo!
As vezes eu falo com a vida,
As vezes é ela quem diz:
"Qual a paz que eu não quero conservar,
Prá tentar ser feliz?"
As grades do condomínio
São prá trazer proteção
Mas também trazem a dúvida
Se é você que tá nessa prisão
Me abrace e me dê um beijo,
Faça um filho comigo!
Mas não me deixe sentar na poltrona
No dia de domingo, domingo!
Procurando novas drogas de aluguel
Neste vídeo coagido...
É pela paz que eu não quero seguir admitindo
É pela paz que eu não quero seguir
É pela paz que eu não quero seguir
É pela paz que eu não quero seguir admitindo
Composição: Marcelo Yuka
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