quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O Brasil chorou por Alcides... e por todos nós


Hoje recebi esse texto em anexo da leitora Adriana.

Eu quero dizer aqui que chorei ao ver a reportagem sobre a morte do estudante Alcides. Senti no choro do Reitor da UFPE a última gota de esperança descendo. Senti no choro da mãe a sensação de luta perdida, de filho perdido, de amor perdido. Só não perdeu a esperança porque ainda lhe restam outros filhos para a vida continuar. Não sinto ódio mortal do assassino, graças a Deus, mas sinto uma desesperança e uma vontade inconsciente que esse mundo se acabe em 2012.

O governo da Bahia está fazendo uma campanha insistente contra o crack, imagino o quanto essa droga deve estar matando brasileiros, estejam ou não envolvidos com o tráfico. São com histórias tristes como a de Alcides que vemos que o tráfico é o câncer do mundo e acabar com ele é simples, mas demanda um esforço por gerações e gerações. Do mesmo modo como ele chegou, é preciso ir embora.

É preciso educar os filhos, passar mais tempo com eles, dar carinho e dar conselhos para que outros não os corrompam. Escola e roupas boas, apartamento com piscina e carro na mão não substitui o exemplo dos pais. Viver com simplicidade e amor, demonstrar isso aos pequenos, é um começo para salvar esse mundo. Deixemos o materialismo de lado e cuidemos do que realmente importa, construir pessoas melhores. Filho com amor não procura as drogas, procura os pais.

---------------------
Por que, Senhor?

Por nada eu gostaria que este fosse o meu assunto ao voltar das férias. Estou voltando hoje. A notícia está comigo há cinco dias. Queima-me o peito, faz-me arder uma surda tristeza e um ódio assassino.

A minha pergunta tem sido por quê? Por que, Senhor, por que tem que ser assim? Acaso será isso "destino"? Eu não creio no destino, não no destino dado por um Deus. Costumo dizer que se houvesse destino dado por Deus, Deus seria um formidável patife. Ele estaria a distribuir "roteiros" diferenciados entres seus filhos... Uns seriam bonitos, outros feios. Uns ricos, outros pobres. Uns saudáveis, outros doentes... E desses destinos não poderíamos fugir. Que Deus seria esse, o que teríamos feito para receber tão diversos e maléficos destinos? Não, não creio num destino divino.

A notícia que me arde o peito era uma das minhas histórias favoritas, eu a contava com ênfase nas minhas palestras em escolas. Uma história de superação pessoal, de lutas, de fé e de vitória. Vitória?

Conto em minhas palestras a história de Alcides Nascimento Lins, 22 anos, negro e muito pobre. Conto? Contava. A história morreu.

Soube do Alcides no Globo Repórter. Maria Luíza, a mãe dele, é papeleira no Recife, com os papéis velhos que recolhe alimenta a casa e educa os filhos. E que educação! Três filhos, Alcides e duas irmãs.

Alcides estudou em colégio público, na preparação para o vestibular pesquisava na velha Biblioteca Municipal do Recife, sem ajuda de ninguém senão da mãe. Sem cota, sem bolsa de estudos, sem nada, a vontade, a decência e a força da mãe.

A cama do Alcides foi feita com madeiras velhas juntadas pela mãe nas hora de folga. A casa é de chão batido, uma única janela e um velho galo branco ciscando por perto.

Alcides passou no vestibular de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco. Passou? Foi o primeiro colocado geral no vestibular. Fazia estágio num hospital de Recife, seria médico este ano.

Seria. Alcides foi assassinado por engano com dois tiros na cabeça. Isso é justo? É justo, Senhor? O que fez o Alcides para morrer como morreu? Maria Luíza, a mãe papeleira, fez-me chorar muito ao vestir, no sepultamento do filho, o jaleco branco que ele usava no hospital onde era estagiário.

Que ódio assassino eu sinto por quem matou o Alcides, o meu exemplo e o exemplo dos pobres, dos decentes, dos que lutam para vencer e vencem sem ajudas. Pobre Alcides! Pobre Maria Luíza! O que te poderá consolar, querida mãe. Penso que nada. Só a dor.

Postado por Luiz Carlos Prates às 01h41

Fonte: http://www.clicrbs.com.br/blog/jsp/default.jsp?source=DYNAMIC,blog.BlogDataServer,getBlog&uf=2&local=18&template=3948.dwt§ion=Blogs&post=269159&blog=425&coldir=1&topo=3994.dwt

Notícia: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1482016-5598,00-POLICIA+PROCURA+DUPLA+QUE+MATOU+UNIVERSITARIO+NO+RECIFE.html

2 comentários:

Rita de Cassia disse...

É Geo, essa notícia fez muita gente por aqui parar e chorar. Alcides era aquela esperança teimosa que nós "os menos favorecidos" temos de um dia sermos alguém. Nem de longe imagino o quanto foi difícil sua tragetória mas conheço pessoas que tiveram a estória bem parecida. Até eu, para estudar passei muitos perregues. Tenho certeza de que a morte dele pode se explicar de uma outra forma que não a do destino divino. Deus jamais daria um destino desses a um de seus filhos. Há certamente uma outra explicação para isso além da violência, da droga, do egoísmo e da maldade que invade algumas pessoas. Também já pensei na possibilidade do "fim do mundo" em 2012, já que o egoísmo desenfreado está tomando conta, mas acredito que estamos caminhando para uma mudança, até muito maior do que possamos entender, pelo menos agora. Certamente, da maneira que está não vai dar pra continuar, será necessário mesmo que alguma coisa aconteça para interrommper esse ciclo de maldade.
Espero que possamos comentar muito essa mudança.
bj bj bj
Ah! Parece que prenderam um suspeito desse crime.

Geovana disse...

Amém, Rita. Amém...