Rudy ou Liesel poderia se chamar Gabriel e morar na Saúde. Eles poderiam não viver na Alemanha de Hitler, mas viver no Brasil democrático, na guerra do desemprego. Ele seria filho de mãe solteira que tenta criar os filhos vendendo jornais. Gabriel também leria no porão, mas não apenas leria, ele moraria lá porque o porão de um dos casarões da Saúde seria a sua casa. Gabriel também teria fome, seria pequeno para sua idade, mas ficaria feliz quando alguém parasse para vê-lo ler. Gabriel não roubaria livros, nem comida, mas pediria para visitar sua casa e, sempre que saísse, pediria para abrir a geladeira e levar algo para sua mãe e irmã. Gabriel amaria os animais, mas teria sonhos pequenos de vida.
Gostaria que Gabriel fosse ficção e o tempo usado no texto fosse o correto, mas Gabriel existe. Domingo o encontrei em frente à barraca do café junto com a irmã que também vende jornais. Ele tinha tomado seu café, apenas biscoitos. Fomos passear com os cachorros e na volta tomou um mingau que deixei esfriando. Me pediu, pela segunda vez, para ir à minha casa. Ele sempre olha tudo, toca o violão e, na saída, pede para abrir a geladeira. Então eu o levo ao mercadinho e compro coisas para ele e a família. Ao sair dei algumas revistinhas para ele levar e, pra minha surpresa ele lê devagar (tem 06 anos), pausadamente e soletra mentamente cada palavra. Isso me deixou feliz. Ele não sabe onde pode ir com os estudos, mas sei que se ele descobrir a leitura nunca parará.
Gabriel toca meu coração porque penso quantos gabrieis existem vivendo nos casarões da Saúde. Penso quantas crianças lindas e inteligentes estão vegetando sem oportunidade e me vejo covarde, como os alemães, que, apesar de não gostarem do vêem, não sabem como lutar e morrem alimentando a covardia, morrem do próprio veneno.
Imagem: Sinto muito, sei que prometi a foto de Gabriel para ontem, tentei muito, juro, mas o blogger não deixa adicionar a foto, então achei melhor mesmo não expor a imagem dele na net.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Quantos Rudy e Liesel há no mundo?
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4 comentários:
Hoje é 11 de setembro, e ainda não vi a foto de Gabriel. E, eu conheço um Gabriel...
Eheh...dia 11 vai até meia noite. Tentei colocar a foto desde ontem, mas a internet não me ajudou nada. Fiquei sem conexão sem fio.
Agora vai.
Amiga, muito obrigada pela fita azul...um beijinho muito grande. Estive de férias e o meu blog ficou mudo, mas já recomecei. Menino Rude é o meu passeio frequente que me alimenta a alma, adoro!
Casa arrumada e força Amiga, estou sempre à espreita...xi-coração e aquele abraço carregadinho de boas energias para alguém bem especial do outro lado do Atlântico...de seu nome Geovana!!!! Força!
Obrigada a você, já estava sentindo sua falta. Beijo.
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