segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Assum Preto

Sábado, após re assistir Em Busca da Felicidade (veja comentário no post anterior), ouvi na rádio a música "Assum Preto" de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. De alguma forma, percebi na letra num contexto bem diferente, que acredito nem seja o propósito inicial da música.

"Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor (bis)"

O assum preto é o homem, trabalhador brasileiro que tem capacidade, criatividade e vontade de vencer, mas por ter sido negado o estudo (a luz dos nossos olhos) não consegue um trabalho digno que o permita aproveitar tudo o que é belo em volta de dele. Esse sentimento, o faz se sentir sem dignidade e por isso ele chora de dor.

"Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá de mió (bis)"

Aqui mostra um ciclo vicioso muito conhecido nas lavouras. Por ignorância dos pais, que também não tiveram oportunidade, e por maldade dos patrões, trabalhadores crescem numa batalha escrava labutando dia e noite sem um salário digno e sem poder aproveitar da própria terra que planta. Não estão escravizados por grades, mas não podem se libertar. Essa escravidão garante ao patrão, uma depndência e uma dedicação maior do empregado.

"Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá (bis)"

Aqui mostra a dor do trabalhador e do desempregado que muitas vezes, num momento de desespero, pensa se não seria melhor roubar e ir preso de uma vez do que ficar nessa luta desigual, em busca de um pão para a família, trabalhando e se escravizando pelos outros. Levando fartura à mesa do padrão enquanto seus filhos passam fome. Cuidando dos filhos do patrão, enquanto os seus vivem à sorte sozinhos em casa ou na rua.

"Assum Preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus"

Esses versos finalizam, mostrando um trabalhador que um dia teve uma vida digna e que hoje está "cego", sem trabalho e felicidade. Ele sabe que o mundo é belo porque já o conheceu, mas, por não ter trabalho, está se sentindo sem luz.

Felizmente, a luz dos olhos de trabalhador pode ser devolvida. Para isso é preciso apenas valorizar a educação e gerar trabalho digno para os milhares de homens e mulheres deste mundo. Uma tarefa difícil, porém possível.

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